domingo, 30 de outubro de 2016

Valéria é o Bairro mais Alto de Salvador



A Rua São João cheira a biscoitos na maior parte do dia. Parte da história da via é contada pela fábrica que há 23 anos espalha o aroma pelas redondezas. “Só um segundo”, diz o funcionário Marcos Gonzales. Quando os portões se abrem e o porquê da nossa presença é explicado, o neto de Seu Zequinha, 75, dono da fábrica, levanta as sobrancelhas e retruca: “Oxe, aqui?! Eu achei que a rua mais alta de Salvador fosse em Brotas”.

A informação de que a rua, em Boca da Mata de Valéria, é o topo de Salvador é recebida com surpresa pelos moradores. A 117 metros de altitude, ela é o ponto mais alto da cidade - e supera em mais de 30 metros bairros como Brotas, Cabula ou Federação, recorrentemente considerados os bairros mais elevados, segundo dados da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado (Conder).

Na verdade, a maioria dos pontos mais altos da capital baiana está na região do Parque São Bartolomeu. Formada por chácaras, a Rua São João tem aparência de zona rural - chão de barro, pés de amêndoas, bananeiras, mangueiras e cavalos soltos. As cerca de dez casas, todas de apenas um pavimento, estão concentradas no início da rua e ladeadas por um eterno fluxo de água suja, fruto da ausência de rede de esgoto na via. A fábrica é o único estabelecimento comercial.

A sensação de viver no interior está também na boca dos moradores, que quando precisam de algo que não tem na região, dizem: “Vou para Salvador”. O ritmo de vida por ali poderia até ser definido como pacato, não fosse o medo da violência na região, que muitas vezes mantém os vizinhos dentro de casa.



HISTÓRIA

Sem saída, a rua é desconhecida até por geólogos que apostavam na Federação ou Cabula como pontos mais altos. Quando os carros chegam até ela, geralmente é por acidente. “Chega um pessoal às vezes aqui porque se perdeu. Quando chamam táxi então, é mais comum ainda”, conta o inspetor de fabricação, Félix Ferreira, 41 anos, donos de uma das chácaras e um dos moradores mais antigos.

Ele lembra que antes de ter as poucas casas, a rua era formada unicamente por chácaras, que ao longo do tempo foram vendidas ou invadidas. “Eu cresci nas chácaras, brincava com meus amigos debaixo do pé de amêndoas. Por elas, descia até a BR-324 sem medo”.

Segundo Ferreira, a área era procurada por ter terrenos mais baratos e ser afastada do centro. Hoje, a propriedade dele - a Chácara das Rosas - tem cerca de 700 m² e parte da família - mais de 15 pessoas - vive nela. Vizinho a Ferreira, vive a família de Evaldo dos Santos, 40, caseiro e morador da chácara número 6. Ele mora com a esposa, Lucineide dos Santos, 38, e quatro filhas. Há 18 anos, veio de Bonfim de Feira, distrito de Feira de Santana, para trabalhar no local.

Acostumados ao cultivo na terra, ao longo dos anos tentaram plantar na chácara, mas o relevo acidentado não permitiu o cultivo em hortas. “A gente plantava, mas a chuva levava tudo para baixo e perdíamos”, lembra Lucineide. Entre as plantações que vingaram, pés de banana, abacate, pitanga, jambo e caju. Eles também cuidam de sete cachorros e criam galinhas e periquitos.

SERVIÇOS EM BAIXA

Viver no local mais alto da capital vem acompanhado particularidades. O sinal de telefone de uma das operadoras é instável. A internet móvel não funciona bem. “Quando eu tinha o chip, me lembro de que só recebia o SMS dizendo que a pessoa tentou falar comigo, era estressante”, queixa-se, Laiane Ferreira, 18, uma das filhas de Evaldo.

O abastecimento de água encanada existe, mas a frequência varia. “Falta água. Já ficamos três semanas sem, mas temos um tanque grande que não nos deixa perceber”, justifica Evaldo. A mesma solução foi adotada na fábrica de biscoitos.

Para os moradores das casas, no entanto, ter uma bomba ou reservatório não é viável, devido aos custos do equipamento e da energia elétrica. A família de Thaís Barros, 22, sente os efeitos da irregularidade no fornecimento. “Todo dia a água vai embora mais ou menos umas 10h”, relata Thaís, que vive em uma das casas junto com três filhos e o marido, Reginaldo Cruz, 35 - que trabalha na fábrica de biscoito.

Em nota, a Embasa informou que o abastecimento é fornecido regularmente, mas que a presença de ligações irregulares ou de problemas na tubulação interna das casas interfere na distribuição.

VEJA OS BAIRROS MAIS ALTOS DE SALVADOR


Fonte: Correio

sábado, 29 de outubro de 2016

Terrenos na região de Águas Claras e Valéria estão se valorizando

Um terreno na BR-324, próximo ao bairro de Águas Claras, na periferia de Salvador, está custando, em média, até R$ 500 o metro quadrado. A área é uma das mais pobres em infra estrutura urbana em Salvador, mas o preço equivale a algumas áreas próximas à Avenida Paralela, onde pode-se encontrar terrenos cujo preço do metro quadrado varia de  R$ 425 a R$ 990, com forme os diversos anúncios do mercado imobiliário em Salvador. “É uma tendência do mercado imobiliário,que vai se definir nos próximos meses”, diz o presidente do Conselho Estadual dos Corretores de Imóveis da Bahia (Creci), Samuel Prado.

A valorização imobiliária em áreas próximas à BR-324, onde se incluem os bairros de Campinas de Pirajá, Águas Claras e Valéria, vem se acentuando nos últimos meses, ante as perspectivas das obras de mobilidade urbana em Salvador, como as avenidas 29 de março, a ligação Cajazeiras/BR-324/Valéria, e a ampliação da linha do metrô a partir da Estação Pirajá , que devem trazer junta  a construção da nova  Estação Rodoviária de Salvador, no bairro de Águas Claras, já a partir de 2018Samuel Prado explica, contudo, que quem está colocando imóveis à venda não pode se apressar, e estabelecer preços que fogem à realidade do mercado. “Não adianta aumentar o valor do imóvel se não houver quem esteja disposto a bancá-lo”, diz, lembrando que é preciso ficar atento ás características de construções definidas pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Salvador (PDDU), aprovado recentemente.

O novo PDDU estabelece que a região de Águas Claras e o entorno da BR-324 são destinadas a serviços. Conforme explicou recentemente a presidente da Fundação Mário Leal Ferreira, da Prefeitura de Salvador, Tânia Scofield, responsável pelo desenvolvimento do projeto. Além de Águas Claras, trechos da região da Avenida Paralela, entre o metrô e a Avenida 29 de março, terão as mesmas características.

Valorização – Nos anúncios imobiliários, por exemplo, é possível se encontrar  um terreno nas proximidades, com 105 mil metros quadrados, pelo valor de R$ 63 milhões, o que equivale a pouco mais de R$ 600 o metro quadrado. Na Avenida Paralela, próximo ao bairro do Trobogy, um outro anuncio mostra a venda de um terreno de  2 mil metros quadrados por R$ 3,950 milhões, com um custo de R$ 197 o metro quadrado, ou seja, três vezes menos que o equivalente na BR-324.

Conforme as últimas pesquisas de mercado imobiliário no País, com base nos dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), referentes a junho deste ano, o preço médio do metro quadrado em Salvador destinados a construções residenciais cresceu 0,88%, estando hoje R$ 8,7 mil para a região da Vitória, e R$ 5,34 mil para o Itaigara. A pesquisa, contudo, não estabelece parâmetros de preços para terrenos.

O presidente do Creci-BA, Samuel Prado chama a atenção para o que ele considera como valorização excessiva, o valor do metro quadrado que está sendo comercializado na região da BR-324. “Mesmo com as perspectivas das obras de mobilidade urbana, como o metrô, a Rodoviária e as novas avenidas, tem que se estar atento ao comportamento do mercado”, diz.

Neste local no bairro de Águas Claras ficarão: a Nova Rodoviária de Salvador, a Estação de Metrô da linha 01 e o Corredor de ônibus da Avenida 29 de Março / Linha Vermelha:



segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Valéria, um bairro esquecido pelo Poder Público




Pesquisar no Google pelo Bairro de Valéria, resultará em notícias que escancaram o drama que este bairro de Salvador vive hoje: a crescente violência no bairro. Trata-se de um bairro isolado, limitado a leste pela BR-324, a oeste pela Estrada da Base Naval e ao norte pelo Centro Industrial de Aratu. Sem interação urbana com os bairros vizinhos: possui linhas de ônibus exclusivamente próprias e não é nem subúrbio ferroviário e nem faz parte do grupo de bairros também periféricos que são associados as Cajazeiras/Fazenda Grande, enfim um bairro isolado e esquecido pelo poder público, apenas lembrado em período eleitoral devido ao seu contingente populacional.

Vamos aos fatos?

1) O Bairro de Valéria não possui creche municipal: as mulheres que precisam trabalhar não tem onde deixarem os seus filhos, a não ser pelo favor de parentes e amigos.

2) Apenas a rua principal do bairro (Rua da Matriz) e algumas poucas transversais possuem iluminação pública satisfatória. As áreas mais carentes do bairro: as localidades da Boca da Mata e da Nova Brasília possuem iluminação muito deficiente e com lâmpadas antigas (vapor de sódio), algumas ruas desta região sequer possuem rede de iluminação pública, não por acaso, estas regiões são as mais afetadas pelo drama da violência.

3) O transporte público, também merece um capítulo a parte: com a pseudo renovação da frota da Integra, os ônibus mais velhos da cidade e que sequer passaram por nova padronização foram deslocados para o bairro. É comum aguardar mais de 1h na espera de algumas linhas e a noite a frota é ainda mais reduzida.

4) Boa parte das ruas não dispõem de pavimentação asfáltica e calçadas. Esgotamento sanitário é um luxo apenas para os conjuntos habitacionais do bairro.

5) O Bairro de Valéria não possui delegacia de polícia. A que atende o bairro está localizada no Centro Industrial de Aratu no município de Simões Filho (8° Delegacia de Polícia Civil) em um local ermo sem ligação direta com o bairro de Valéria.

6) O único módulo policial do bairro localizado no Largo de Valéria na Rua da Matriz encontra-se completamente abandonado. O policiamento no bairro realizado pela 31° CIPM optou-se por se instalar em um conjunto habitacional conhecido como Derba, distante das áreas mais demandadas do ponto de vista policial.

7) É muito comum andar pelo bairro e não encontrar policiamento regular, principalmente aos finais de semana quando há maior incidência de crimes. As regiões da Boca da Mata de Valéria e da Nova Brasília de Valéria não possuem pontos fixos de policiamento e são as regiões mais carentes por este serviço público.

8) Não há incentivo à prática de esportes ou mesmo formação profissional para os jovens do bairro.

Qual o resultado disso?

O aumento da violência no bairro, o estigma de bairro violento, a baixa autoestima e o medo da violência por parte de seus moradores. A omissão do poder público, Prefeitura de Salvador e Governo do Estado, tem causado muitas vítimas no bairro.


Protesto por morte de morador - 24/10/2016:




domingo, 23 de outubro de 2016

Foto Antiga - Final de Linha

Bairro de Valéria - Conheça sua História



O Bairro de Valéria está situado à margem direita da rodovia BR-324, no sentido da Feira de Santana-Salvador. Trata-se do primeiro bairro da capital soteropolitana para quem acessa Salvador por esta rodovia e está localizado a 23 quilômetros do Centro.

O Bairro de Valéria teve sua origem a partir do desmatamento de três fazendas existentes na área onde hoje esta localizado o bairro, pertencentes as famílias tradicionais: Schindller, Temporal e Omaque, dando origem a loteamentos e invasões.

O primeiro loteamento oficial do bairro foi o do Temporal. Outros loteamentos invasões surgiram sem estrutura, sendo o mais recente o da fazenda Omaque, originando a localidade da Boca da Mata. Onde hoje temos a localidade de Nova Brasília, as terras eram propriedade do CIA-Centro Industrial de Aratu. Concluímos que o bairro é composto de conglomerados de loteamentos, destacando-se como os mais importantes: Derba, Boca da Mata, Nova Brasília e Lagoa da Paixão.

Ate o ano de 1969, o bairro fazia parte do município de Lauro de Freitas.

Graças a sua localização privilegiada do ponto de vista da logística, o bairro de Valéria abriga muitas empresas de transporte de cargas e algumas fábricas que geram emprego no bairro.