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Ilustração extraída do Jornal da Bahia, publicado em 17 de junho de 1973. |
Valéria, lugar outrora orgulhoso pelo prenúncio do progresso acelerado, mais parece hoje uma pedra de gelo que se derrete sob a ação do tempo. O "Flor de Valéria", situado na rua da Matriz (a principal) perdeu o reboliço constante, a algazarra, as farras diárias dos homens vindos do trabalho na "capital". O período crítico de gradativa decadência afastou-os do lugar, assim como a escuridão monótona enxotou a meninada que brincava, à noite sobre o pedestal da cruz, defronte da igrejinha.
Dos cabelos grisalhos, óculos de lentes escuras, atrás das quais se escondem olhos negros, um velho morador lembra a década de 1920 quando o governador Antonio Aragão resolveu construir uma estrada ligando a capital à cidade de Feira de Santana, passando por Valéria. A movimentação era intensa, o comércio passou a crescer assustadoramente. O lugar prometia progresso. Muita gente chegava para residir ali.
SÓ UM SONHO
O tempo passava e com ele Valéria crescia. Certo dia a população foi surpreendida com a notícia de que a estrada de Feira iria deixar de passar ali. Foi o caos. Posta em prática essa medida o lugar estagnou, mas continuou de pé na esperança de receber melhoramentos de Lauro de Freitas, a quem pertencia. A Prefeitura Municipal de Lauro de Freitas instalou um posto de arrecadação, prefeitos eleitos puseram energia e colocaram cascalho na estrada já obsoleta.
Tudo ia muito bem, a esperança ainda reinava entre os moradores, até que no dia 26 de setembro de 1969 a Câmara dos Deputados aprovou projeto desligando Valéria do município de Lauro de Freitas e anexando-se à Prefeitura Municipal de Salvador, na condição de subúrbio. A íntegra do projeto foi publicada no Diário Oficial dois dias depois.
O chefe do Executivo de Lauro de Freitas, insatisfeito com a pretensão da Prefeitura de Salvador, recorreu ao Supremo Tribunal, continuando a receber as arrecadações de Valéria, sem contudo mover uma palha em seu benefício com medo de perder no recurso e ter que restituir toda a verba. Nem um lado nem o outro ajudava o lugarejo, que assistia impassível seu progresso esmorecer.
PALAVRAS SÃO PALAVRAS...
Valéria só foi entregue à Prefeitura de Salvador no mês de março desse ano pelo prefeito nomeado de Lauro de Freitas (esse município passou a integrar a área de segurança nacional). Um morador disse que o recurso do ex-chefe do Executivo de Lauro de Freitas ainda não foi julgado. Conta-se em Valéria que no dia 2 de setembro de 1970 o governador mandou armar um palanque no adro da pequenina igreja, subiu nele garbosamente, cerrou os punhos, ergueu os braços e fez uma centena de promessas, garantindo instalar um moderno sistema de abastecimento d'água, levar lâmpadas aos postes, posto médico, entre outras coisas.
Um fato interessante é que o governador chegou a afirmar, - segundo o dono da Barbearia São Jorge - que se não cumprisse com as promessas o povo poderia se reunir e publicar o fato na imprensa. Disse ainda o barbeiro que no ano passado um grupo de técnicos esteve fazendo um levantamento topográfico para instalação do serviço de abastecimento de água no mês de fevereiro desse ano. Entretanto nunca mais voltaram.
Valéria é realmente um subúrbio desprezado e esquecido, sendo - ao que se sabe - o pior e mais subdesenvolvido. Sua composição social iguala-se a pequenos distritos das cidades do rústico sertão baiano. As fábricas localizadas nas proximidades, principalmente no Centro Industrial de Aratu, assimilam boa parte da mão de obra local, mas é em Salvador que se encontra um maior número de pessoas trabalhando.
Esses últimos empregados, ao lado dos estudantes sofrem com a falta de transporte coletivo. A Empresa Ipiranga, única que faz a linha, coloca apenas dois ônibus no percurso. Em consequência disso, filas enormes se formam cujos passageiros esperam até três horas por um veículo. E o pior é que quando este chega, além de ser insuficiente, tem que ir até o CIA para então retornar a Salvador. Isso obriga muita gente a chegar atrasada no trabalho e perder aulas, além de outras obrigações.
Um estudante lamentou que estuda no Colégio Militar, mas nunca chega no horário, sendo que muitas vezes é obrigado a voltar porque o porteiro não o deixa entrar no estabelecimento naquele horário. Disse, inclusive, que sai do colégio antes das 18 horas e só consegue chegar a sua casa às 22 horas, por falta de transporte. Quando não encontra meios de ir para casa ele é forçado a dormir na casa de uma tia. "O negócio é que o último horário é 8h40m e quando lota o jeito é ficar" - salientou.
Comenta-se em Valéria que o secretário de Administração Municipal Fernando Fontes, esteve ali no dia 9 de março do ano passado e prometeu solucionar o problema da insuficiência de ônibus, dizendo que tomaria as providências no sentido de colocar outra empresa para fazer a linha. E até hoje...
ENSINO PRECÁRIO
Praticamente não há ensino em Valéria. As professoras deixam de ir dar aulas por falta de transporte, quando não chegam atrasadas no colégio. E há outra coisa: se a professora acha uma carona não vacila, arruma seus livros, dispensa os alunos e vai embora. O setor de saúde é pior ainda, um médico, só vai ali duas vezes por semana, atende no próprio carro, pois não há posto médico e quando chove ele nem lá aparece. O dentista também faz a mesma coisa, segundo os moradores. O povo está pensando em arranjar uma sala para servir de posto médico.
Em Valéria também não há policiamento, o que facilita a ação de ladrões e marginais. Hoje em dia ninguém se arrisca a sair à noite no subúrbio abandonado. Antes as crianças brincavam no pedestal da cruz; hoje não. As duas estradas que ligam o lugar a BR-324 estão praticamente intransitáveis, com crateras em toda sua extensão. Quando chove a lama acumula e quando faz sol a poeira se espalha. O governador também prometeu pavimentá-las.
Muita gente colocou placas anunciando estar disposta a vender sua casa, assim como lotes e granjas. Mas não adianta porque ninguém aparece para comprá-los. O Sr. Walfrido Gonçalves da Cruz, morador da rua Conde de Porto Alegre, 259 - 1° andar, no bairro do IAPI, disse que vende o metro quadrado dos seus cinco lotes a Cr$ 5,00. Ante toda essa situação, a população de Valéria não entende porque a Prefeitura de Salvador interessou-se tanto pelo lugar e o deixa ao abandono. Ninguém respondeu até hoje essa pergunta.
Fonte: Cultura Todo Dia
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